O livro do desassossego - Fernado Pessoa

"Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão."

terça-feira, 27 de setembro de 2011

1984 by LORIN MAAZEL


1984 by LORIN MAAZEL

Stage by Robert Lepage

Orchestra e Chorus of Royal Opera House

Indiscutivelmente o cenário é algo de fantástico. As formas, movimentações, cores, elementos... nunca havia visto algo tão extraordinário em cena. A forma musical de contar a história, ainda que eu não compreenda nem metade do que é dito, através da encenação é possível captar muito. Mas creio que isto se deva muito mais a sonoridade, cores e transformações dos elementos em cena, isso até mais do que pela representação cênica dos atores. A voz surpreende nas cenas, isso sem falar da orquestra que dá todo o tom de espetáculo. A orquestra musical, a orquestra visual do cenário contracenando o tempo todo com os atores e com o som.

Realmente fiquei surpresa, veria este espetáculo ao vivo, em inglês, sem falar este idioma e tenho certeza que me maravilharia, já que o vídeo dele foi capaz de me provocar isso.

As cenas de multidões, coros, são sem dúvida muito mais interessantes que as cenas de dialogo ou monólogo, no entanto algumas dessas se destacam, como a da mulher que parecia uma professora de Educação Física maluca e militar, vestida de branco, vermelho e preto. Ou a do casal central no quarto de hotel, ou ainda quando ele chega a prisão branca e uma prostituta gorda e ferida (que aliás é feito pela mesma atriz que faz a professora, rouba totalmente a cena) que fica tentando seduzi-lo.

A sala de experimentos é incrível, com cores sombrias e um aparelho de tortura que parece ter saído de um filme pós-apocalíptico. Ao mesmo tempo em que remete a imagem de Cristo na cruz.

O cenário com várias alturas, andares, cores, circular e reto, dançando em cena com os atores, foi mágico!

Momentos com grandes e vários adereços, outros com poucos e suficientes. Uma grandiosidade que contrasta com a sutileza. Adultos e crianças, diversas vozes.

A maquiagem e o figurino também merecem ser destacados, já que casam com a fotografia proposta. Aliás, as cenas onde os atores parecem feridos são bastante convincentes.

Atores pendurados no cenário em movimento, cantando, sofrendo, sorrindo, imagens ao fundo. Uma superprodução que nunca antes eu havia tido a possibilidade de conferir, a não ser com o Cirque Du Soleil, mas este é famoso e rico...rs

Os conflitos pessoais entre a liberdade e o aprisionamento consciente, o detrimento da vontade, do sentimento, da voz. Enquadramentos que no cinema seriam feitos pela câmera são proporcionados pela construção do cenário em alinhamento com a luz e a construção cênica.

Difícil assumir que fiquei maravilhada.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Rosas danst rosas


ANNE TERESA DE KEERSMAEKER
ROSAS DANST ROSAS
Obra filmográfica de 1996, baseada no espetáculo homônimo de 1983. Obviamente não posso comparar ambas, já que nasci em 1981.
O vídeo é interessante e ao mesmo tempo cansativo. Li como um colégio interno, ou um presídio para meninas, não para mulheres. Parece retratar movimentos do cotidiano de forma estilizada, misturado a movimentos da dança clássica e moderna.
Esses movimentos são incansavelmente repetidos em diversas seqüência. Tem haver com nosso dia a dia. Vi momentos de dúvida, acordos, insegurança, segurança, decisões; no entanto, parece retratar um dia no cotidiano deste lugar. Não um dia comum, um dia onde um grupo consegue superar os limites dos muros institucionais. Não vemos os gestores, mas eles parecem ser parte das paredes.
Ainda assim, quando esse grupo se liberta e passa a noite entre si, com suas indagações, ao final do êxtase vem o cansaço e elas, assim como todos nós, retornam para a zona de conforto, para o abrigo, tornando aquelas sensações parte de uma experiência findada.
Dá-me a sensação de questionamento sobre as nossas escolhas, sobre a sociedade acima de nossas vontades, sobre o militar, o poder que esmaga, a vontade dos outros. Questiona, sem dúvida, nossa rotina. Ou o que fazemos dela.
Interessante que as bailarinas foram cuidadosamente selecionadas por tipo, ao que parece, já que muitos dos movimentos têm relação com o cabelo comprido, o corpo esguio, os seios pequenos, o mostrar-esconder do corpo, sua venda ou troca por algo que nem sempre é o que se deseja a fundo.
Pense...

São Paulo, 20 de setembro de 2011. Karina Yamamoto