O livro do desassossego - Fernado Pessoa

"Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão."

terça-feira, 20 de março de 2012

Fuerza Bruta - De La Guarda

FUERZA BRUTA
DE LA GUARDA - Argentina

Pude contemplar este espetáculo em novembro de 2011 na Broadway em NY. O grupo De La Guarda passa mais tempo em temporada por lá do que em seu país, já que fixaram residência por ali.
Foto: Karina Yamamoto
Este espetáculo, diferentemente do espetáculo Villa Villa, em Fuerza Bruta a relação com o público muda e dimunui bastante, tornando-se um espetáculo de contemplação, ainda que pude ouvir de algumas pessoas na platéia que aquela era uma "balada rara". Isso quer dizer que muitos ali vão apenas para entretenimento e realmente não sei se era este o princípio do grupo.
Foto: Karina Yamamoto
O espetáculo é composto por imagens, séries de imagens que vão se construindo a partir de recursos cênicos de cenários grandiosos. É lindo, no entanto pode ser representado por qualquer pessoa, não exige a necessidade de atores, mas de atletas ou pessoas com boas condições físicas, pois muito exige fisicamente e pouco da preparação de um ator.   
Penso que seria mais interessante assistir este espetáculo sentada confortavelmente do que da forma que eles propõem: em pé, circulando pelo espaço. Isso porque em quase todos os momentos que tive de me mover não significava interação e sim que era necessário remodular o cenário para criar uma cena nova e as pessoas estavam cupando espaço. Éramos tirados do local como o gado é enviado para outra pastagem. O que as pessoas diziam sobre ser uma "balada", não condiz com a maneira com que o público é tratado, ou talvez eu esteja equivocada quanto ao que procuro de diversão em uma balada.
Foto: Karina Yamamoto
Passei quase todo o espetáculo olhando pelo visor da câmera, pois assim era possível focar as cenas já que o público em geral não pretende contemplar e sim dançar com as músicas tocadas. Boa parte dança em rodinhas e não assiste ao espetáculo, é interessante como o teatro, a performance são entendidos hoje. Ainda assim é interessante pelas imagens construídas, que falam por si mesmas. A construção dos cenários e adereços, acrescidos da luz é tão pensada que qualquer coisa,  pessoa colocada ali em movimento já é lindo, não necessita mais, talvez por isso não tenham se preocupado com interação, condução ou texto..






segunda-feira, 19 de março de 2012

IVAN E OS CACHORROS



SITE: http://www.ivaneoscachorros.com.br/



Ontem foi a noite de assistir este espetáculo. Foi feliz por dois motivos, o primeiro de poder rever um antigo colega de faculdade e o segundo dele estar em cena, muito bem em cena. 
Pensando sobre o espetáculo: tem uma duração plausível, o ator em cena está presente a todo momento e digo presente no sentido de que ele realmente está, existe uma brincadeira com a luz e o som em off feita pelo personagem que é também o narrador e contracena com estes elementos, além de imagens que são projetadas na parede felpuda ao fundo, felpudo também é o chão, relembrando a companhia dos cães que o garoto tinha.
Percebi em alguns momentos que eu me desligava da cena e no decorrer voltava. Ao sair da sala de espetáculo fiquei pensando sobre possíveis razões para que isso ocorresse e não conseguia encontrar motivos. Foi então que me dei conta de que o sofrimento prolongado deixa de ser sofrimento para ser presente, cotidiano e era isso que eu estava vendo em cena. Em filmes europeus, principalmente do norte, existe uma particularidade na forma de contar histórias, sem os costumeiros apelos que os "hollywoodianos" fazem em seus filmes e relacionei este espetáculo a ester contar. Não havia um excesso no drama, a história estava sendo contada sem dar importância a valores que são de apenas algumas culturas. 
Em geral, me encanta este contar frio, o simplesmente contar desses filmes europeus e normalmente não rompo os laços criado com os personagens. Assim entendi o que se passou nesta relação com a cena de ontem, como a voz do personagem era constante, assim como o sofrimento dele era constante, minha atenção deixou de ser constante a ele e passou a se ligar nos outros elementos da cena e fora da dela, na platéia, que ao contrário de mim, não se desligou.
Isso porque se trata de uma peça intensa e muitas vezes respondemos a intensidade com descaso. Essa é sim uma possibilidade a ser considerada. Recomendo este espetáculo para os atores, pois Eduardo dá um banho de atuação (e banho pois ele fica encharcado), constrói cenas lindas com recurso reduzidos de cenário e iluminação. Luz essa que em alguns momentos é clara demais, penso.
É PRECISO IR AO TEATRO PARA DISCUTIR TEATRO. ASSISTAM ESSE ESPETÁCULO!