O livro do desassossego - Fernado Pessoa

"Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão."

quinta-feira, 15 de março de 2012

Hell - Hector Babenco

TraillerHELL
Direção de Hector Babenco
Com Bárbara Paz e Paulo Azevedo

(Foto de João Caldas)

Pude conferir este espetáculo na quarta-feira  dia 07, no Céu Vila Atlântica. A oportunidade surgiu a partir de um convite feito a escola onde leciono para que levássemos nossos alunos. O contexto se torna importante pois muitos dos alunos nunca haviam ido ao teatro, estudam no período noturno e a maior parte são adultos que voltaram a estudar depois de muitos anos. Não éramos os únicos da pláteia que também era composta por pessoas da comunidade que pouco vão ao teatro, como pude perceber pelas falas na fila antes de entrar na sala de espetáculo.
Os alunos da escola tiveram uma breve contextualização do que veriam, isso porque não pretendia prover expectativas e gostaria de ouvir depois as impressões. Antes de entrar na sala, estavam ansiosos e lá dentro a grande maioria preocupada porque muitas pessoas não paravam de falar e eles queriam aproveitar a oportunidade.
Inicia-se o espetáculo já com grande impacto. O trabalho tem uma concepção cênica curiosa, o cenário é bem escuro e os adereços de luxo da personagem contrastam com essa escuridão, o que torna o quadro "cocaína chique". É uma peça com muito texto, muito bem falado pela atriz, mas por muitos momentos me perdi, tanto por conta do barulho na platéia, tanto quanto pela opção técnica (acredito), de quem nem tudo precisava ser ouvido. Também me senti distante em diversos momentos em que os dois personagens contracenavam porque o jogo entre eles parecia não ocorrer naquela noite. Houveram dois momentos em que me senti próxima: na primeira noite de sexo e na despedida deles no quarto, quando ela desdém dele. Depois deste quadro, não consegui mais manter o laço com a cena.
Ao final houve um "bate-papo" com os atores onde ele inclusive fez questionamentos em relação a postura do público e relatou o quanto o espetáculo perde quando a platéia "não ajuda", mas o público "barulhento" já havia saído e não ouviu. No entanto me questionei quanto a essa colocação dele, pois concordo sim com a afirmação, no entanto fiquei em dúvida sobre a preparação e/ou adaptação do espetáculo para este contexto, com esse público, neste lugar. Isso porque trata-se de uma composição de espectadores peculiar, que dificilmente se locomoveriam até um "teatro no centro" para assistir tal espetáculo.
Na escola, depois, ouvi também sobre esta questão de duas alunas, pois elas sentiram-se incomodadas com o barulho mas queriam que os atores "fizessem uma cena mais forte que assim todo mundo veria"- como disse uma delas. Também acredito nisso, acredito nos dois pontos, dele e das alunas.
Fora essa minha impressão, vejo o espetáculo como muito bem encenado, acelerado, esfumaçado, dark, chique, depressivo. Os alunos em grande maioria o adjetivaram como "forte, quente, muita fala dela, rápido e pesado". Aliás, a parte dos alunos religiosos ficou bastante chocada, no entanto conseguiram (ou me enganaram) analisar a obra além do tema, e os alunos, geral, adoraram a oportunidade e pretendem continuar a assistir espetáculos teatro, pois como um aluno me disse: "É legal ver assim, ao vivo, com uma atriz boa que até engana a gente".

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