O livro do desassossego - Fernado Pessoa

"Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão."

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O JARDIM - Cia. Hiato

Direção e Dramaturgia:Leonardo Moreira
Elenco: Aline Filócomo,
Fernanda Stefanski
Luciana Paes
Mariah Amélia Farah
Paula Picarelli
Thiago Amaral

Ator Convidado:Edison Simão
Cenário:Marisa Bentivegna e Leonardo Moreira
Iluminação:Marisa Bentivegna
Figurinos:Theodoro Cochrane
Trilha Sonora:Marcelo Pellegrini - Surdina Produções Musicais
Treinamento Corporal:Amanda Lyra
Produtor Executivo:João Victor d'Alves
Gestão:Aura Cunha
Produção:Cia. Hiato

(Foto Divulgação - site da Cia Hiato)

     A Cia Hiato volta em cartaz , com O JARDIM no TUSP - Maria Antonia, em São Paulo, com apresentação até o dia 26/08/12. Este é um espetáculo que vale a pena conferir, tanto vale que a busca por ingressos se tornou uma corrida maluca. Já antes de abrir a bilheteria sérios desentendimentos acontecem, um por parte do público desesperado para assistir, outro porque a organização do TUSP permite a compra de muitos ingressos por pessoa, logo o primeiro da fila se dá o direito de adquirir quase todos. Ultrapassando esta saga, você adentra a sala de espetáculo e é convidado a adentrar o jardim, onde diversas situações, encontros e desencontros acontecem.
    O espetáculo é visualmente incrível, possui um cenário enorme montado com caixas de papelão que transformam o palco em vários espaços simultâneos, apartamentos onde vivem famílias diferentes, ou a mesma geração de uma família ao mesmo tempo, em interação. De forma brilhante Leonardo Moreira encontrou espaço no texto para brincar com estes grupos familiares que interagem entre si através de sons, gestos e texto milimetricamente organizado.
    A interpretação por parte dos atores é um desbunde, em destaque ao casal Fernanda e Thiago que a princípio não me tocavam, mas ao decorrer da cena me conduziram ao universo de um final de uma relação conturbada e infeliz. A tristeza no núcleo Luciana, Mariah Amélia e Simão que dividem uma festa melancólica é em seguida (na sequência que assisti) preenchida pela comicidade de Aline e Paula, que na podridão do homem enquanto ser social degrada aqueles que o cercam com ironia.
    Quando me referi logo acima a sequência, é porque tive a chance de assistir as sequências familiares em ordem cronológica - isso porque o público é dividido em três grandes grupos - e o grupo que fiquei diria que foi agraciado. Repensei como seria assistir nas outras sequências, mas acredito que mastigado como foi, como uma história a ser contada do começo ao fim, é confortável. Isso porque de outra maneira não seria de trás para frente, seria fim, começo e meio; ou meio, fim e começo. Opto pela cronologia. 
    Por fim, creio que a grande beleza do espetáculo está na simultaneidade de textos  diferentes com partes semelhantes nas três cenas, na composição inusitada do espaço, no som que se mistura no espaço e na precisão dos atores em cena. Logo vemos que a direção foi bastante pontual neste espetáculo! 
    Para aqueles que ainda não assistiram, vale a pena enfrentar a fila, mas só tem mais um final de semana. Neste, o TUSP garantiu vender apenas dois ingressos por pessoa, então será menos tumultuado, boa sorte e bom espetáculo!

O-Z: WEST - Cia. Fanny & Alexander

Um dos espetáculos da Trilogia O-Z da Cia. Fanny & Alexander
Criação: Fanny & Alexander
Direção, cenário, luz: Luigi de Angelis
Atuação: Francesca Mazza


WEST (OESTE)
(Mostra Sesc de Artes - Foto divulgação)

    Este foi o segundo espetáculo que assisti desta Cia, o terceiro da trilogia. Diferente de Emerald City, a forma de comover ou afetar o público não era centrada no som, ainda que houve um ruído insistente durante quase todo o espetáculo. Ruído pois era um som incômodo, deslocado do que víamos e se essa era a proposta ela não afetava, incomodava.
    Em cena uma atriz experiente, um cenário que beirava o espressionismo e ações construídas a partir de partituras, o texto interessante, era um espetáculo que eu realmente acreditava e o assisti acreditando, mas a conexão não aconteceu. Passei todo o tempo esperando algo que ainda não descobri o que era, mas que faltou para que houvesse sintonia entre o proposto e o público presente. Ou que houvesse repulsa, enfim, que algo acontecesse, que não fosse apenas contemplativo, no entanto foi oque ocorreu: uma peça para contemplar, aplaudir o trabalho e ir para casa. Fiquei triste com isso por três motivos: o primeiro era o de saber que o emaranhado entre interpretação, direção e dramaturgia estavam coerentes e nada acontecia, o segundo era por não ter resposta para que nada acontecesse, e o terceiro era estar ciente de que o nada e a tristeza que sentia não tinham relação com a encenação.
    Já em casa, num pensamento maldoso e reconfortante cheguei a conclusão de que mesmo as grandes Cias também erram!




O-Z: EMERALD CITY - Cia. Fanny & Alexander (Ita)

Um dos espetáculos da Trilogia O-Z
Criação: Fanny & Alexander
Idealização: Chiara Lagani e Luigi de Angelis
Músicas: Mirto Baliani
Vídeo: ZAPRUDERfilmmakersgroup
Dramaturgia: Chiara Lagani
Direção, Cenário, luzes: Luigi de Angelis com Marco Cavalcoli
Construção de Cenários: Nicola Fagnani, Amir Sharif-Pour

Vozes e Atores que são depoimentos pessoais, são de diversos países: veja link Mostra Sesc de Artes.

 TRILOGIA O-Z - Cia. Fanny & Alexander – (ITA)
(Foto divulgação)

    No final de julho tive a oportunidade de conhecer ao vivo o trabalho da Cia Fanny & Alexander através de dois espetáculos da trilogia O-Z, não tive a oportunidade de ver o terceiro, ou o primeiro (HIM), como preferir. Por isso, primeiro vou me ater ao Emeral City, espetáculo de grande impacto sonoro. São 70 minutos de confusão e desespero para o público que ouve insistentemente e intensamente uma profusão de historias contadas por diversas vozes em diversos idiomas e que se intercalam ou intercruzam. Em cena uma figura que remete a Hitler e que tem movimentos pequenos e lentos, ao mesmo tempo em que uma profuzão de luzes desenha o cenário, ou um cenário, já que trata-se de uma placa branca com um vazado.
    De forma sensorial, este espetáculo muda a percepção do público em relação ao que ouve e vê, e trata-se de tanta intensidade em não-movimento que cria-se uma tensão para quem o assiste, o ouve, que só se percebe ao final, no silêncio, na escuridão. De forma segura posso afirma que este espetáculo incomoda, fere o público e creio que seja esta a proposta ao encená-lo. Nada comum, linguagens diversas das artes inseridas em 70 minutos de experiência aparemente sensória, mas que afeta de forma dolorida, fisicamente, o público.