O livro do desassossego - Fernado Pessoa

"Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão."

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Penélope Vergueiro

Penélope Vergueiro
Direção de Carlos Canhameiro
Com: Erika Coracini, Paula Carrara e Rimenna Procópio


Assisti ao espetáculo no domingo a noite. Resolvi esperar um pouco antes de escrever já que saí de lá com uma impressão muito ruim, isso me fez pensar quanto a minha postura enquanto público: será que eu estou exigindo mais do que o teatro em geral tem me oferecido? Isso porque percebi que o sujeito ao meu lado se deliciava com o que via. Realmente haviam momentos interessantes como o afogamento provocado no balde, alguns objetos de cozinha que se construíam em novas formas de serem usados. No entanto, refletindo agora, percebo que eu não estava sendo assim tão exigente. Ele se deliciava principalmente com os momentos de nudez das atrizes e com outros em que as "mulheres" questionavam a sua posição na sociedade. Entendo o porque de não me deleitar como ele nessas cenas: não tenho tezão no corpo feminino na forma como era retratado e não me preocupo com esse "certo feminismo" que em muito se mascara na sociedade como um falso machismo - realmente ainda não me decidi sobre qual ponto de vista o espetáculo abordava, talvez quisessem realmente questionar a platéia e isso é interessante, mas na hora me pareceu apenas chato.
Continuei a pensar no porque de eu não ter gostado e relembro de outros pontos como o excesso de adereços na cena que entravam e não saíam, prestei tanta atenção neles que em vários momentos me esquecia das atrizes, e nem eram assim tão interessantes quando estavam ali, eu os olhava tentando ver ou sentir algo que não me tocava. Outro ponto era o piso molhado, em alguns momentos foi interessante, como em uma cena em que uma usa a outra como rodo ou quando elas se esforçam para simplesmente caminhar sem cair, mas em outros era só água que elas derrubaram e não conseguiram secar e tentavam com isso incomodar a platéia que poderia se molhar, mas a platéia já estava sentada em cadeiras que inclusive foram elas quem ofereceram. A princípio me senti confortável ao sentar no chão, depois quando mollharam o espaço da cena fiquei desconfortável, mas em seguida me confortei de novo com o presente do assento e passei o resto do espetáculo confortável, olhando cenas que queriam me deixar instável mas isso não acontecia. Fora que era muito bem delimitado o espaço da cena, não havia abertura para o público estar em outro lugar que não nas bordas, talvez por isso entregaram as cadeiras, mas mesmo essas, já que parecia haver a noção de instabilidade, poderiam não ser oferecidas tão claramente.
A história contada em partes, por diversos olhares é legal, em geral foram os momentos que mais me prenderam. Isso achei bizarro, pois sou alguém muito pouco ligada a contextos, mas nesse espetáculo foi o que mais me tocou. Senti-me uma espectadora de TV, vendo um filme que de vez em quando se dirigia a mim, mas se eu não me manifestasse não faria diferença, já que na caixa de papelão teria um cigarro e um isqueiro necessários a cena.
É isso, foi por isso que não gostei, me senti confortável em demasia em um espetáculo que queria me desestabilizar. Isso não quer dizer que eu não recomende, recomendo sim, é bom participar de algo que nos faça pensar. Esse espetáculo me fez!

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